“(...) Cada
parte de nós tem a forma ideal
Quando juntas estão, coincidência total
Do côncavo e convexo
Assim é nosso amor, no sexo (...)”
Quando juntas estão, coincidência total
Do côncavo e convexo
Assim é nosso amor, no sexo (...)”
Roberto
Carlos
Todo mundo aqui em casa sabe, que quando Idamara escuta Roberto Carlos é porque vai transar. Ela liga o aparelho de som na cozinha e prepara a comida que comerá no momento pós-coito.
“Comida de
motel, além de cara, é horrível”, diz ela, enquanto meche o estrogonofe com a
colher.
Depois o
alimento mágico é armazenado em pequenos ou grandes tupperwares coloridos de plástico, que ela compra em loja de 1,99. Apelidados
por nós de “Tupperwares da Libertinagem”.
O cardápio
varia. Depende das preferências dos bofes – que em sua maioria, ela conhece na
internet. Durante o bate-papo ela pesquisa o gosto do rapaz. Isso é algo
primordial, me parece. Nunca transaria com um vegetariano, por exemplo. Não que
eu saiba.
Às vezes o tupperware
é de bife acebolado, peixe a milanesa, macarrão... Mas normalmente, quem mais
aproveita o rango, é ela mesma.
“Não sei o que
acontece. Mas parece que a comida depois do sexo fica com um sabor ainda mais
especial.”, ela diz.
Ida sente uma
fome descomunal depois que transa. Ainda mais se o sexo for bom. Bem, não sei
com vocês, mas comigo também é assim.
Às vezes, a
comida é melhor – aí, chega a pensar na sobremesa antes de devorar o prato
principal. É comum lembrar, enquanto trepa, da comida que a espera dentro da
bolsa.
Idamara
frequenta salas de chats para homens que gostam de mulheres gordas. É assim que
conhece os pretendentes. Seu nickname é “pernocas_roliças” e vai logo deixando
claro que procura aventuras sexuais. Quando envia suas fotos voluptuosas
seminuas, logo encanta os pretendentes. Tem uma, especialmente, com um biquíni
mínimo, na Ilha do Mel, que leva os caras ao delírio. O pequeno tecido,
finíssimo e lilás, some no meio de suas imensas e lascivas nádegas, frente à
imensidão do mar.
Quem tirou a
foto foi uma amiga nossa, a Crislene. Cris é a pessoa em quem Idamara mais
confia, depois de mim. Ela sempre nos conta todas suas aventuras. Quando manda
mensagem dizendo “preparem-se para o babado”, já sabemos que tem história boa.
Sempre digo que
um dia escreverei um livro sobre ela. Uma espécie de biografia não autorizada.
Preciso começar.
A amiga capricha
nas fotos. Tem umas no sofá da sala e outras na jacuzi também. Nessa da jacuzi,
Idamara devora um baita hambúrguer com cheddar.
Suas curvas são
muito bem delineadas por uma pele lisinha e sem manchas. Além disso, possui
seios fartos que fascinam os favoráveis à fartura e tarados por auréolas
gigantes. É difícil de encontrar um biquíni que tampe tudo.
A moça é gulosa
tanto na comida quanto no sexo.
Tem rapaz que
não dá conta. Se o cara é magrinho, normalmente é mais enérgico. Mas os pauzudos
é que se dão melhor, porque enfiam mais fundo. Até porque a bunda é bem grande.
Sei bem como é isso, porque sou bunduda também. Não tanto quanto ela, né,
mas...
Ela costuma
marcar os encontros em locais distintos, e normalmente no centro. Na Praça
Osório, na Tiradentes, Largo da Ordem... Às vezes na Confeitaria das Famílias, onde
pode já aproveitar e comprar umas guloseimas para incrementar a refeição. Os
doces são prazeres à parte. Pudins, bombas, brigadeiros...
Dali ou vão para
um motel, ou se o cara morar sozinho, para o apartamento dele.
Idamara não se
sacia facilmente. Sua apetite é voraz, curte trepar durante horas. Já chegou
até a achar que tivesse alguma doença, tipo eroto ou ninfomania. Mas a
psicóloga disse que é normal e sugeriu que ela se masturbasse mais.
“Masturbação não
tem graça” – ela diz.
Gosta mesmo é do
sexo carnal, selvagem. Sentir o pau, pele, cheiros, líquidos...
Depois de horas
devassas, nada mais justo que uma comida delícia, preservada em fantásticos tupperwares coloridos.
Acho que ela não
vai gostar que eu conte isso. Mas teve uma vez que ela comeu um croquete de
queijo um pouco antes de encontrar-se com um fulano, na rodoferroviária. E aí o
croquete não caiu bem no estômago, e no momento que fazia um sexo oral, vomitou
no coitado. Por sorte eles faziam dentro do carro, e o pobre tinha deitado o
banco, bem relaxado, com a cabeça para trás e os olhos fechados. E ela me
falou: “Isso nunca tinha acontecido comigo.” Depois me disse que rapidamente,
meio que por instinto, engoliu novamente o croquete vomitado que tinha jorrado no
pinto e barriga do cara.
“Até hoje não
entendo como ele não sentiu aquela coisa quente e úmida regurgitada.”
Têm vezes que
ela tem companhia - o bofe senta-se junto e manda ver. Outros ficam só olhando.
Quando estão no motel, utilizam a mesinha perto da entrada. Mas já comeu até na
cama.
Teve um sujeito
que ficou excitado novamente só de vê-la comendo. Ficou tão impressionado ao assistir
as possantes garfadas, que por baixo da mesa, chupou a buceta, fazendo-a gozar novamente
enquanto comia. Idamara conta que nunca sentiu tanto prazer.
“Gozei no
estômago e no clitóris. Ainda calhou de estar comendo um empadão de camarão –
meu prato favorito”.
Já aconteceu
também do sujeito pedir para enfiar durante a refeição.
“Também foi bom.
O difícil foi coordenar as garfadas com o movimento de subir e descer.”
Quando o camarada
é bom de garfo, senta-se junto e manda ver. Já pensando nisso, ela sempre
carrega na bolsa talheres de sobra. E com o tempo foi aprendendo a preparar tupperwares maiores. Inclusive aqueles
com divisões de espaços. Quando vai à loja de 1,99 é uma folia. O pessoal da
loja já sabe e comenta:
“Ó lá, a senhorita tupperware.”
Idamara possui
uma coleção enorme deles, dispostos lado a lado num armário da dispensa. Acho
que não existe nome científico para este tipo de compulsão, mas eu e a Cris
inventamos o termo “Tupperlove” pra
isso.
“Nunca esqueço
de um figura que gostou tanto, que repetiu e no outro dia pediu para almoçar lá
em casa. Acho
que ele gostou mais da comida do que de mim. Aliás ele virou meu amigaço, até
hoje. Agora a gente nem transa mais. Semanalmente marcamos de almoçar juntos.”
Porém nem tudo é
perfeito.
Semana passada, Idamara
marcou um encontro na Praça Carlos Gomes e o cara não apareceu. Daí me mandou
uma mensagem com a hadtag “chateada” e eu fui até onde ela estava. Encontrei-a
sentada num banco da praça. Ela me contou tudo, abriu a tampa do tupperware, mostrando-me a lasanha a
bolonhesa ainda quente. E falou:
“ Os tupperwares não aguentam tanto tempo
assim...”
Ela me emprestou
o garfo e faca que estavam reservados ao amante e comemos a lasanha, juntas,
ali mesmo. Triste, me disse que se
sentia abandonada e sozinha.
Pode não
parecer, mas Idamara tem um lado romântico pacas. A Cris sempre fala que o
sonho da Idamara é casar.
Ela não reparou
que eu vi, mas enquanto comia a lasanha, deixou escorrer uma pequena lágrima.